Alô, Alô, Terezinha


Se você era bem criança na década de 80 ou nem tinha nascido, certamente perdeu a oportunidade de ver Chacrinha invadir a TV. Talvez até conheça os bordões, a fama e a irreverência do apresentador de ouvir falar, mas não tem ideia de como era a presença dessa figura na televisão brasileira. Até este domingo (8) à tarde, eu também não tinha. Graças à reprise do seu "Cassino do Chacrinha", no canal por assinatura Viva, pude ter um pouco de noção sobre o estilo único do apresentador.
"Quem quer bacalhau?". "Quem não se comunica, se trumbica". "Roda, roda, roda e avisa, um minuto pro comercial. Alô, Alô Terezinha, é um barato o Cassino do Chacrinha". Esses e outros bordões imortalizados por Abelardo Barbosa, o Chacrinha, fizeram a cabeça dos brasileiros na televisão daquela época. E fizeram a cabeça desse telespectador que vos fala agora, em 2011.
Com a reprise dos seus programas, digo que tive o privilégio de ver um grande apresentador em cena. Sempre li e ouvi referências sobre o trabalho do Chacrinha e, por mais que pudesse assistir vídeos de seus programas no YouTube, poder vê-lo na televisão me deu uma sensação de que estava sendo transportado para aquele tempo.
Chacrinha é mesmo revolucionário como dizem os livros e as testemunhas oculares da época. Afinal, que apresentador dos dias de hoje jogaria bacalhau pra plateia? Pois ele fazia isso. Fazia mais: jogava feijão, saco de farinha e tantas outras frutas e legumes. "Quem quer a banana do Ney Latorraca?", disse antes de pedir para seu assistente de palco, Russo, entregar uma penca de bananas para um dos membros do auditório.
Diferentemente dos programas de hoje, todos milimetricamente pensados e planejados, "Cassino do Chacrinha" dá a impressão de ser feito todo de improviso. Parece que alguém da produção disse antes de Chacrinha entrar em cena: "vai lá e faz qualquer coisa". O programa é uma verdadeira zorra, claro que no bom sentido. Os câmeras se movimentam meio que atabalhoadamente, sem se preocupar se vão aparecer na telinha. A plateia grita loucamente e fica quase que em cima dos jurados, convidados para opinar nos concursos mais aleatórios. As dançarinas e o resto da equipe do programa também parecem terem sido atirados ali sem qualquer instrução. Num dado momento, o assistente Russo entra na frente de uma das bailarinas que auxiliam Chacrinha no programa. Fazendo leitura labial da moça, claramente percebia-se a frase: "Russo, você está na minha frente.". Parecia não haver marcações de palco para os envolvidos naquele circo.
Algumas das atrações musicais que se apresentaram no programa exibido, que data de 1987, ainda estão por aí: Lobão, Os Paralamas do Sucesso, Ultraje a Rigor, Léo Jaime e Titãs puderam cantar sem correr o risco de ganhar o troféu abacaxi. Outras figuras que se apresentaram por lá, como Rosana e Roy, ex-integrante do grupo "Os Menudos" talvez não sejam nem conhecidos pela minha geração, mas fizeram sucesso nos palcos do Chacrinha. Tinha até Jairzinho e Simony recebendo disco de ouro pela vendagem dos seus LP'S.
Até este 8 de maio de 2011, não fazia ideia da importância do Chacrinha para a televisão brasileira. Tudo que li e ouvi não representava nem um décimo do que era essa figura que trouxe descontração e irreverência para a TV. Como Chacrinha era moderno. Afinal, não era qualquer apresentador que tinha coragem de cantar "Bota Camisinha" numa época em que dizer algumas coisas não era lá muito bem visto. Chacrinha continua moderno em 2011 e, talvez, seu jeito anárquico não tivesse espaço na televisão de hoje. Qual dessas emissoras iria colocar no ar um programa que parecesse tão pouco planejado e suscetível  ao erro e ao improviso quanto esse? Parece que tanta ousadia assim ficou no passado.

CASSINO DO CHACRINHA

QUANDO: todos os domingos de maio

ONDE: Canal Viva

HORÁRIO: 16 horas

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