Desfecho de Escobar em "Narcos" é marcado por muita ação e trama que demora a engrenar


O que fazer quando o desfecho de uma série já é amplamente conhecido pelo mundo? Como manter a curiosidade dos espectadores? Bom, o mínimo que deve acontecer é manter a qualidade "lá no alto". Sim, Pablo Escobar morre na segunda temporada de "Narcos", disponibilizada pelo Netflix na semana passada. Mas, isso não é o que mais importa na série. O cerco a um dos maiores narcotraficantes do mundo e os efeitos da anunciada morte são os destaques da produção, que, por outro lado, acaba sofrendo com problemas no roteiro logo no início.
O aguardado segundo ano de "Narcos" começa a partir da fuga de Escobar (Wagner Moura) de "La Catedral", a prisão que abrigou o traficante por um período. A situação faz com que ele e sua família passem a se esconder nas várias propriedades do império do criminoso. À princípio, Escobar mantém uma postura petulante em relação ao governo e a polícia, confiando na população de Medellín e nos sicários para fazerem sua retaguarda.
Na caçada ao traficante, os agentes norte-americanos do Drug Enforcement Administration (DEA), Javier Peña (Pedro Pascal) e Steve Murphy (Boyd Holbrook), enfrentam mudanças na operação policial, com a chegada de uma chefa (Florencia Lozano) para controlar as coisas e as mudanças de estratégia do presidente César Gaviria (Raúl Méndez) para pegar Escobar. Uma delas, inclusive, foi a aposta em trazer de volta Horacio Carrillo (Maurice Compte) para comandar o grupo especial incumbido de encontrar o protagonista.
Mas, as autoridades não são a única preocupação de Escobar, que ainda precisa lidar com as investidas de seus inimigos que pretendem conquistar a fatia do mercado de cocaína comandada pelo narcotraficante. Neste lado da perseguição, está Judy Moncada (Cristina Umaña), que deseja se vingar de Escobar e assumir os negócios. Para isso, ela procura se aliar aos chefões do Cartel de Cali, que vê uma possibilidade de controlar a venda de entorpecentes, especialmente em Miami. Para caçar Escobar, eles fazem uma parceria com "Los Pepes", grupo guerrilheiro que passa a se empenhar em ver o protagonista morto.
Os trabalhos paralelos das autoridades e dos inimigos de Escobar acabam convergindo e gerando momentos tensos à Colômbia, que acaba sofrendo as consequências e, a partir das reações do protagonista diante do cerco, acaba pagando um preço caro. O início da queda de Escobar faz com que a integridade de sua família fique ameaçada, causando a separação deles e a consequente tentativa de Tata (Paulina Gaitan) e dos filhos do bandido de deixarem o país.
Depois de muitas reviravoltas e mortes para ambos os lados, Escobar se vê isolado e na iminência de ser pego a qualquer momento. Mesmo assim, ao lado de seu fiel comparsa Limón (Leynar Gomez), ele se instala em uma casa em Medellín e resiste em se entregar. É ali que o famoso Pablo Escobar, antes amado pela população e agora visto como uma ameaça, vive suas últimas horas, até ser cercado pela polícia e morto em 1993.
Com um "spoiler" já amplamente anunciado, "Narcos" tinha uma difícil tarefa pela frente, mas, fazendo um balanço geral, conseguiu cumprir com as expectativas e apresentar um bom resultado. As sequências de ação, que marcam o fecho do cerco a Escobar, são responsáveis por alguns grandes momentos da série, especialmente nos últimos episódios. 
Essas mesmas sequências, no entanto, são parte do problema, que está presente na metade inicial da temporada. Depois de um primeiro ano cheio de reviravoltas, "Narcos" deixa, nos primeiros episódios, a sensação de que falta uma trama consistente e que, por isso, as cenas de ação, repetitivas nesse período, são tão presentes. Elas servem de "muleta" para um roteiro promissor, mas que guarda seus melhores momentos para os últimos quinto episódios. Recuperados, os conflitos entre os personagens, antes superficiais, ganham contornos interessantes e tornam, inclusive, as sequências de ação mais potentes.
A condução inteligente do roteiro na segunda metade da temporada também permite que o caminho fique aberto para uma vida da série sem Escobar, já que a atração foi renovada para mais dois anos. O poder adquirido, pelo Cartel de Cali, de forma tímida e certeira, o que resulta em uma ascensão coerente no fim.
O elenco tem uma atuação regular e bastante satisfatória, inclusive com coadjuvantes marcantes nesta segunda temporada. Mais uma vez, no entanto, quem rouba a cena é Wagner Moura, agora muito mais seguro e dono do personagem. O ator tem um trabalho impecável como Escobar, trazendo humanidade e sentimentos controversos a uma figura presente no imaginário de muitas pessoas. Se, no trabalho corporal, Moura revela um Escobar físico, é no olhar que ele desnuda a alma do traficante, ora apreensivo e ora tão seguro de si. 
"Narcos" vai viver após Pablo Escobar e, se apresentar um roteiro consistente, tem todas as condições para isso. Superados os problemas iniciais, com uma trama de pouco movimento, apesar das cenas de ação constantes, a série termina o segundo ano acima da média, com um desfecho satisfatório e que valoriza a figura central do traficante. Seguramente, pode-se dizer que Escobar fez história no mundo das séries e, agora, o Cartel de Cali terá que se esforçar para manter o nível.

NARCOS (segunda temporada)

Onde: Netflix (todos os episódios disponíveis)

Cotação: ★★★ (boa)

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